
Existe alguma relação deste “Jogo” com os “Jogos” vividos nas empresas quanto às percepções individuais?
Em um processo de recrutamento e seleção qual a importância da percepção do condutor do processo? Qual a importância da postura dos candidatos?
O condutor, seja ele psicólogo ou não, não está atrás dos espelhos do cotidiano da vida dos candidatos para conhecê-los ao ponto de garantir um processo de seleção 100% seguro.
Ao contrário, ele conhece o que é apresentado em alguns minutos, o que muitas vezes pode não ser o real. E mais: ele, condutor, psicólogo ou não, está à mercê de suas percepções individuais. Ou seja, ele está sujeito às contaminações de sua percepção. Podemos chamar isto de erro fundamental de atribuição. A tomada de decisão em um processo de seleção precisa ser mais racional, adicionando-se é claro, a intuição, que na verdade funciona como complemento deste método racional para tomada de decisões.
Já os candidatos, muitas vezes “treinados” para àquela situação de concorrer para uma oportunidade no mercado, “vendem” o que não são na sua essência. E onde isso vai dar? A resposta é lógica: incoerência entre expectativas organizacionais e candidato selecionado.
Indo mais adiante um pouco... Até quando um candidato “treinado” para processos de seleção consegue manter a postura que foi ensinada como adequada na situação da seleção? A resposta também é lógica: muito pouco tempo, ou seja, até quando conseguir manter o esforço emocional para ser o que não é de verdade. Nunca podemos esquecer que é possível enganar a alguém por toda a vida, é possível enganar a muitos por muito tempo, mas não é possível enganar a todos por todo o tempo.
Com certeza, este Gap – tempo exposto do profissional ao que não lhe é satisfatório, não vai gerar produtividade em suas ações e, muito menos ainda para as organizações. Consequência: profissional insatisfeito, que vai procurar seu “ninho” em outro lugar e, aumento da rotatividade de pessoas, o que gera custo para as empresas.
Algumas conclusões podem ser tiradas: é indispensável o treinamento do condutor de processos seletivos, seja ele psicólogo ou não e, especialmente quanto aos candidatos, que sejam eles próprios, nunca perdendo de vista sua autenticidade, seus valores e o que o satisfazem de verdade!
De novo é fundamental lembrar que não é possível viver na infelicidade: nenhuma das partes envolvidas (empresa/empregado). Assim, ou se faz o que nos faz feliz, o que se gosta de fazer ou, de outro modo se passa a ser feliz fazendo o que deve ser feito, se passa a gostar do que se faz.
Outra alternativa não há a menos que procurar outros "ninhos".
Manter coerência entre seus valores e suas atitudes, com seus princípios morais e éticos é um bom trabalho para se manter feliz no trabalho. E, quando isso acontece, não tem como errar, porque não existe estratégia ou treinamento para vencer! Tudo é uma conseqüência dos espelhos individuais, que acompanham todos a todo tempo. É uma questão de personalidade!
Numa organização, as pessoas estão sempre julgando umas as outras. As chefias precisam avaliar seus subordinados, os pares se comparam quanto à dedicação e competência e por aí vai. Só que quando estes julgamentos são feitos, tende-se a simplificar esta tarefa, buscando torná-la mais facilmente administrável. Outro prejuízo para as organizações e para os profissionais! Isto porque, simplificações de julgamento como estereotipagem, projeção e/ou efeito de halo, podem levar a distorções quanto ao desempenho dos profissionais, como diminuição do aproveitamento dos talentos humanos – profissional competente em área ou atividade não coerente à sua capacitação, diminuição da retenção destes talentos - não motivação dos mesmos nas atividades executadas, conflitos internos – por erro de atribuições e, aos termos tão falados e pouco trabalhados nas organizações: alto índice de absenteísmo e alta rotatividade.
Destaca-se que, segundo Pichón Riviere, a avaliação preliminar e rasteira é geralmente carregada de memórias da vida de cada um, de cenários individuais projetados em terceiros, na verdade projetando nos outros suas próprias experiências e vivências. Como Dante Alighieri bem mostrou que "o inferno está nos outros", a chance de erros grotescos nestas avaliações são bastante significativas.
Concluindo: não somos expectadores das organizações como somos do Big Brother! Ao contrário, somos os personagens deste “Jogo” e, como tais, estamos todos sujeitos aos julgamentos muitas vezes errôneos! Isto é real!